terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Minhas minisséries: parte 01: Chiquinha Gonzaga

Eu sou uma noveleira assumida. Acredito que, se a assistirmos com consciência de que se trata de um romance e não de realidade, elas podem nos ensinar a enxergar a realidade de forma romântica. Também há temas e novelas que se preocupam em mostrar, por meio da ficção, uma realidade, um apelo, uma mensagem, etc... Porém, é preciso de inteligência e muita sensibilidade para captar essa intenção do autor. Humildemente, me considero capaz de captar muito de tudo que assisto leio ou ouço, minha mente vai além do que está escrito, vou imaginando situações, criando ideias, associando a outras e assim por diante. Mesmo em textos técnicos busco exemplos que concretizem ou transformem aquelas palavras. Enfim, sou assim desde que me entendo por gente.
Na adolescência, passei a me encantar pelas minisséries. Apesar de apoiar as novelas, acho que as minisséries têm uma qualidade ainda maior, primorosa mesmo. Seja na escolha do tema (sempre com um propósito maior do que um mero entretenimento) como no figurino, direção, etc. O que sei é que tivemos minissérieries transmitidas pela televisão com qualidade de 1º mundo. E o melhor: normalmente sobre temas nacionais. Pena que elas costumam ser apresentadas muito tarde da noite, dificultando quem acorda cedo como eu.
Sorte que hoje podemos encontrá-las em DVD ou pelo youtube, um grande auxílio para quem queria assistir, mas o sono não permitiu.
A primeira minissérie que me despertou interesse e que venho reassistindo é a história de Chiquinha Gonzaga. Chiquinha foi uma grande compositora de chorinho e modinha brasileiros, com obras de inegável qualidade. Contudo, sua história magnífica é essencial para compreender e poder sentir sua obra.
A compositora nasceu artista. Sim, porque como afirmou o, também compositor e tocador de flauta, Joaquim Calado, em um dos capítulos, artista é quem se arrisca na vida, que não tem medo de nada, que não gosta nem aceita a estabilidade de uma rotina. Artista é quem “sente a vida em todos os seus momentos".
Chiquinha foi isso mesmo: jogou fora um casamento e uma vida cheia de regalias na Corte do Rio de Janeiro da era colonial, lutou pelo amor de um boêmio das noites cariocas, insistiu em compor música brasileira ao invés de tocar em seu piano os grandes compositores da música erudita (Choppin, Bethoven, etc.). Ela mesclava em suas melodias a harmonia da música erudita tocada na Corte com o som africano para marcar ainda mais nossas raízes nacionais.
No aspecto político, Chiquinha Gonzaga apoiou os abolicionistas da época e lutou em prol da liberdade dos escravos negros do país. Filha de uma negra, ex-escrava que conseguiu sua liberdade por meio do casamento com um Major, a menina Francisca nunca se conformou com a escravidão. Até sua mãe aceitava as convenções da época dizendo ser a escravidão um “destino traçado por Deus”, mas a filha não. Lutou e brigou contra tudo e todos por seus ideais.
Ainda bem que existiram pessoas como Chiquinha Gonzaga. Artistas que nasceram para nos mostrar a vida fora dos trilhos, das regras, das imposições e – por que não? – das leis. Claro, quando a lei for injusta, tal qual era a que apoiava a escravidão nos tempos do Brasil colônia. Essa brilhante compositora nos deixou como maior legado sua música e, através dela, uma verdadeira lição de vida.
Recomendo que, no tempo livre, os queridos leitores procurem conhecer a biografia de Chiquinha Gonzaga ou, se assim preferirem, assistam a minissérie escrita por Lauro César Moniz, dirigida por Jayme Monjardim. Com Gabriela Duarte e Regina Duarte no papel principal, transmitida em 1999 pela Rede Globo.

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